domingo, 14 de junho de 2020

MEMÓRIAS DA DONA PERYNA

ROBINSON, QUANDO EU TE CONTAR A HISTÓRIA DO SOBRADINHO,
 TEM ALGUMA COISA DESTA FOTO.

Não sei se vai  gostar da historia, mas eu a amo, pois esta encrustada em meu coração...

Quando cheguei com a minha família pra morar ali na Rua Dom. Carlos Golveia em Vila Amália, estava com 2 anos de idade. Aquele sobradinho no meu tempo de criança era diferente, embaixo tinha um porão, em cima só um cômodo grande com uma escada de madeira para o acesso, e ao lado uma pequena cozinha feita de taboas. Ali moraram muitas famílias, não consigo lembrar de todas da minha época, pois era muito criança, mas teve uma de quando eu já tinha meus sete ou oito anos de vida que me marcou, uma lembrança que eu guardo até hoje em meu coração.

Era uma família de nordestinos recém chegados da terra, o pai era o Sr. Sandoval e a mãe Dona Beliza. Eles tinham muitos filhos, e eu me lembro bem dos mais velhos;   Nilson , Nilceia, Niete, Neilse, Neilto, Neildo e mais uma porção de ''ENES''.

O pai não sei se era servente de pedreiro ou pedreiro e a mãe com aquele batalhão de filhos lavava roupas pra fora.

A criançada da rua:
Um dia Dona Beliza reuniu a criançada, fora os dela éramos mais ou menos uns 10, e mandou que fossemo para casa dela a noite, após as 18 H, porque ela ia nos ensinar a rezar. E assim terminado o jantar, os meninos começavam assobiar no portão de casa chamado outras crianças que vinham também das ruas de cima. As vezes eles estavam jantando sentadinhos em alguns sacos de estopa no quintal. Nem passava pela minha cabeça ficar olhando   aquelas crianças comerem as suas jantinhas tão humildes. O pai logo terminava de jantar, subia a escada e ia se deitar e a mãe subi atrás, e aquele monte de crianças atrás dela.

O pai já estava deitado em uma cama de casal, bem no cantinho embrulhado até a cabeça.Tinha três camas de casal, não sei como dormiam, nós íamos sentando nas camas , e os filhos se acomodavam atrás de gente e ela Dona Beliza nos ensinava a rezar o terço, eram todos os dias menos no domingo.

Quando terminava o terço que sempre era oferecido para a alma de algum conhecido, ai começava a melhor parte. Ela nos contava uma história por noite, eram umas histórias diferentes, eu pelo menos não conhecia, ainda estava na Branca de Neve e nos Três Porquinhos, mas nós amávamos aquelas historias diferentes, e as vezes pedíamos p/ repetir algumas

...pare um pouquinho e pense.................

já pensou ?????? Um homem que trabalhou no pesado o dia inteiro, deita p/ dormir e a casa enche de crianças rezando e esperando uma história...

Uma outra lembrança:
Meu pai sempre fazia fogueira pra São João, e naquele ano Sr. Sandoval e Dona Beliza vieram e batizaram todas as crianças na fogueira lá de casa kkkkk.

ai era ...padrinho Sandoval e Madrinha Beliza. Passado um tempo eles mudaram para uma rua paralela a Rua Gilberto freire, numa casa que fazia fundos para uma igreja evangélica, e dificilmente via algum deles.

Sobre as histórias lindas contadas pela madrinha com seu lindo sotaque nordestino; em 1970 eu descobri o mistério.
Ia eu atravessando ali pela Praça da Sé e vi em uma banca de livros usados um livrinho escrito  "Coco verde e melancia '''. Na hora me lembrei de 4 das minhas histórias preferidas.. comprei o livrinho e tenho até hoje, as histórias que ela contava eram literatura de cordel.
Veja você, ela tinha as histórias de cór.. procurei muito os outros livrinhos mas nunca encontrei.

Quando vim embora em 4/5/1964 o sobradinho estava lá, e tinha gente morando, mas em 2000 passei por lá pra matar as saudades e já não era o mesmo, na frente tinha algo construído, não sei se era bar ou igreja.


_Dona Perina

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